Desenho como Meditação. Pensamento abstracto.
O Desenho como Meditação. Desenho: o olhar fora. Meditação: o olhar dentro. A abstracção como forma de pensamento em que o conhecimento é independente do conceito, onde a denominação, ou seja o nome, vem no fim e nunca no inicio da observação. O desenho passa por uma construção de relações de linhas, manchas, volumes e texturas, suportadas por movimentos verticais e horizontais organizando-se num universo de inclinações que auxiliam o entendimento e compreensão da relação das mesmas formando uma composição própria, individual e única.
O conjunto de linhas que observamos é visto com um olhar que não se prende à representação da realidade tangível, nem tem o objectivo de correspondência a nenhum objecto ou coisa. A sua existência passa por ser só a que realmente existe e não aquela que nós preconcebemos. Os padrões antigos de percepção condicionam o novo que se apresenta na sua eterna transformação.
Interessa-me uma consciência de totalidade, um estado acordado de pura presença contemplativa. Desenhar o agora, uma mente que relaciona e não julga. A generosidade revela-nos todo o espaço mostrando-nos composições perfeitas habitadas por inúmeras subtilezas e tensões sem tensão.
Esse pressuposto de ver tudo como uma nova verdade constante “arruma-nos a casa” mental e cria clareza efectiva em contraste com a obscuridade afectiva. A Luz-Sombra pode ser sinónimo de obscuridade se não for entendida sob um único foco, o da percepção pura do Agora.
Contemplar o real, através de uma mente abstracta, para que surja no visível, o invisível, legitimando assim o nome. O olhar foca-se no objecto de interesse retirando não só a sua informação visual, das formas, como também a informação dada por todos os outros sentidos. O foco está em todo o corpo que está alerta para tudo o que rodeia ao ponto de sentir que tudo lhe pertence embora aparentemente se encontre separado. O objecto contemplado não está separado do todo e o observador também não, ambos fazem parte do mesmo, são o mesmo, e é ao experimentar e vivenciar esse estado que podemos apelidá-lo de contemplação e por consequência natural, meditação. Sendo verdade no abstracto como também no figurativo mental.
Um estado contemplativo onde todos os sentidos estão acordados, onde o Desenho passa a ser acção, verbo, pensamento e entendimento de vida é uma forma de estar, vibrar, ser, existir, respirar. Fonte que nunca se esgota. Desenho, onde tudo é relação.
Susana Chasse 2022
Tese DESENHO como MEDITAÇÃO. O Olhar que Comtempla – 2010