Banda desenhada – Expressão narrativa
Banda desenhada, que forma tão peculiar de expressar pensamentos. Dos mais concretos aos mais abstratos, na sua definição, podemos encontrar em Eisner (1985) as palavras referentes à sua definição como “uma arte sequencial de uma estética única, um meio criativo expressivo, uma disciplina distinta, uma arte e uma forma literária que lida com a disposição de imagens e texto para narrar uma história ou dramatizar uma ideia.”
Na BD, as sequências presentes em cada canto de uma página têm um planeamento, são o produto da relação entre quadros e o seu conteúdo. Estas ligações podem fazer com que uma história adquira várias dimensões, sejam elas visualmente exuberantes, ou sensorialmente estimulantes na sua sensibilidade e subtileza. São criados momentos únicos, dos mais melancólicos, aos de ação pura, a intencionalidade na colocação de cada elemento pode ditar toda a perceção que o leitor possa ter ao experienciar uma Banda Desenhada.
Neste aspeto, podemos ressalvar as questões da expressividade e intensidade da linha; a utilização da cor como instrumento narrativo; ou a forma de como são utilizadas as linhas de força que cada composição gráfica pode produzir de forma a guiar o movimento do olhar na leitura. A estas questões podemos também adicionar a da variedade de suportes e formatos que adicionam novas abordagens a esta linguagem. Desde os fanzines e a sua variedade de histórias e objetos, até aos webcomics e os seus novos paradigmas de leitura com a possibilidade de páginas infinitas, as fronteiras que pareciam delineadas como a Banda Desenhada e a animação começam a diluir-se.
A criação de uma narrativa visual reside então na escolha dos momentos certos e a sua concretização, são tomadas de decisão que estão inteiramente ligadas à experiência de quem a idealização e desenha, tornando cada abordagem única. Aspetos como o passado, desejos, gostos, ou até rotinas, são determinantes, mesmo que inconscientemente, tratando-se de histórias de heróis ou autobiografias, a BD é um espelho do mundo do autor. E eu não sou exceção.
Foi a partir das potencialidades do desenho que me liguei a esta forma de expressão, e com ele, a necessidade de me comunicar, diria até mais, de desabafar. Inicialmente, como qualquer criança, gostava de desenhar, muito, algo que não parei de fazer enquanto crescia. O desenho foi-me acompanhando nos bons e nos maus momentos, com ele fui aprendendo a ter curiosidade sobre o que me rodeava e a perceber melhor o meu espaço. Nestas reflexões, muitas das vezes caóticas, apercebi-me que podia ordenar ideias a partir do desenho, criando sequências, decompondo momentos, materializando de certa forma algo que a princípio parecia inteligível, até mesmo no emaranhar dos meus pensamentos.
É neste momento de caos que os pensamentos se misturam com todo o contexto que possa envolver o artista. Livros que lê, filmes que viu, ou música que o possam ter marcado. Todos os estímulos e experiências são combustíveis catalisadores para a criação. Esta abertura ao mundo, nas suas mais variadas formas ou problemas merece reflexão, seja de forma pessoal ou interpessoal. No meu caso, em qualquer trabalho que faça, seja ele de que natureza for, dou por mim a resgatar aspetos pessoais, desabafos ou não, desenho o que quero comunicar, transponho-me para o papel. Acompanhando as potencialidades desta arte, só espartilhada pela impossibilidade de a tornar profissional, algo que infelizmente em Portugal continua a ser uma utopia. No entanto, esta realidade não impede que existam cada vez mais autores de BD a querer editar e mostrar o seu trabalho, nos seus mais variados suportes, sejam fanzines, edições com editoras ou sem elas, ou através de webcomics. O que importa é querer contar algo, ter força e perseverança para o concretizar.
Joana Afonso (1989) Doutorada em Desenho pela FBAUL, onde é docente, faz também trabalho freelance nas áreas de ilustração e banda-desenhada.
Pode dizer que faz BD desde a altura quando desenhou o argumento de Nuno Duarte no álbum “O Baile”, com o qual ganhou o prémio da Amadora
BD 2013 de Melhor Álbum e os Prémios Profissionais de BD de Melhor Desenho e Cor. Desde então tem vindo a editar e a participar nos mais variados projectos.
Foi autora em destaque no Festival Internacional Amadora BD de 2014. Conta com colaborações em jornais, revistas e produtoras com trabalhos desde ilustração a concept artist. Publicou e expôs internacionalmente.