Impressões Dissimuladas
O meu trabalho sempre teve um forte vínculo com a gravura e, em particular, com a serigrafia.
Tem sido um processo de investigação teórico-prático que teve como ponto de partida a minha experiencia profissional, e um percurso pessoal e processual, que se tem desenvolvido nos últimos anos, reflectindo-se na minha forma de pensar e construir o meu trabalho artístico.
Este processo caracteriza-se por uma procura e uma prática através da qual o modo operativo adquire grande importância. A serigrafia está sempre presente na execução dos meus trabalhos, e por tanto, procuro sempre questionar quais são os seus limites tecnológicos, e que resultados práticos e plásticos posso adaptar na construção dos meus objetos.
Os trabalhos mais recentes representam extensões de caules e radiculas de plantas de Heras. São raízes aéreas que correspondem à imagem de um emaranhado de linhas que se cruzam, sobrepõem e interligam, onde não se distingue o início, o centro ou o fim. Linhas que se propagam ad infinitum, incorporando cada uma o seu próprio devir dentro destes rizomas.
Elas continuam para além dos limites dos trabalhos, como na perspectiva centrífuga como nos fala Rosalind Krauss no seu texto The Grid. Estes trabalhos podem ser observados de diferentes ângulos, podendo o espectador ‘entrar’ ou ‘sair’ do objeto por qualquer uma das suas arestas.
O meu trabalho reflete uma pesquisa que procura encontrar uma nova possibilidade de operar da serigrafia. O Imprimir exaustivamente uma imagem sobre a mesma área de um único suporte, o que permite salientar a imagem impressa do plano que lhe serve de base, criando assim uma terceira dimensão.
A cada início de um novo trabalho, as imagens que irei usar são decompostas e divididas em vários layers, correspondendo cada layer a um ecrã serigráfico com diferentes níveis de informação; sendo o primeiro o que corresponde à maior área de impressão, e o último o da informação residual a ser impressa.
– A cada impressão é depositada uma nova camada fina e uniforme de tinta na superfície do suporte. É a contínua repetição deste gesto e a sucessiva acumulação de camadas, que são cópias com características tácteis e carnais num mesmo registo, que permitem às minhas imagens sobressaírem do plano que lhes serve de base. Esta é uma particularidade que caracteriza a minha forma de operar.
Os objetos resultantes deste modo de fazer, mesmo quando apresentam características da bidimensionalidade, revelam-se também como baixos-relevos, conferindo-lhes assim atributos e especificidades que os instalam no território da tridimensionalidade.
Este processo contraria assim a ideia pré-estabelecida de que a serigrafia se encontra estagnada e estanque no grupo das técnicas de gravura planográficas, caracterizadas por impressões planas, ou seja, aquelas que não revelam nem deixam vestígios de textura ou relevos detetáveis nas superfícies impressas.
Pretendo assim demonstrar com esta forma de operar uma nova característica da serigrafia: a possibilidade ainda pouco explorada que esta oferece para produzir objetos que saem do campo da bidimensionalidade para se instalarem numa outra dimensão, através da repetição obsessiva e simultaneamente dissimulada do ato de impressão.
Desta aparente acumulação, resulta no entanto, num trabalho artístico carregado de extrema leveza e depuração.
Paulo Lourenço nasceu em Lisboa a 1965 onde vive e trabalha.
Em 2016, concluiu o Mestrado em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Desde 2001 participou em mais de cem Exposições Colectivas em Portugal, Brasil, África do Sul, França, Espanha, Itália, Dinamarca, Holanda, República Popular da China, Polónia e Japão.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2016-Lisboa, (Galeria Diferença) “Brancos, de um só lugar” 2015-Proença-a-Nova, (Galeria Comendador João Martins) “Encruzilhadas”, Pintura/Gravura. 2014-Lisboa, (Galeria Abraço), “Crossing Lines”, Pintura. 2009-Proença-a-Nova, (Galeria Comendador João Martins) “Crossover”, Gravura. Lisboa, (Galeria Diferença) “Genius Loci”, Pintura. 2008-Lisboa, (Associação de Gravura Água Forte) “Ambientes-Feéricos”, Gravura. 2006-Évora, (Galeria Teoartis) “Desigual”, Gravura. Lisboa, (Galeria Diferença) “Entre Variáveis”, Gravura.
PRÉMIOS
2015 Espanha, Cáceres, 1º Premio da Bienal Iberoamericana de Obra Gráfica Ciudad de Cáceres. 2009 Beja, Menção Honrosa, (Museu Jorge Vieira), XVII Concurso/Exposição Galeria Aberta. 2007 Lisboa, Medalha de Bronze do I Salão de Artes Plásticas de Portugal. Beja, Menção Honrosa, (Museu Jorge Vieira), XV Concurso/Exposição Galeria Aberta. 2004 Évora, Prémio Exposição Individual do 4º Festival Internacional de Évora – Bienal Internacional.
REPRESENTAÇÔES
Holanda, Amesterdão, Vereniging Voor Originele Grafiek, (VOG). Portugal, Lisboa, Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, Museu Arqueológico do Carmo. República Popular da China, Macau, Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau. Japão, Okinawa, Sakimi Art Museum. Representado em colecções privadas em Portugal, Brasil, Espanha, Holanda, Polonia e Japão.