Desenhos de Guerra
Formado em pintura histórica nas escolas de belas-artes de Lisboa e de Paris, Adriano de Sousa Lopes (1879-1944) foi o único artista oficial do Corpo Expedicionário Português em França, chegando à frente de guerra em Setembro de 1917. Inicialmente concebida com claros objectivos de propaganda, a sua missão foi transformada pela experiência da sórdida guerra de trincheiras e o testemunho do drama do soldado comum, chegando a uma visão mais pessoal e humanista do conflito.
Sousa Lopes montou um atelier próprio no sector português e conseguiu ultrapassar as restrições que limitavam a actividade dos artistas oficiais de outros exércitos, trabalhando semanas a fio nas trincheiras da linha de fogo, onde foi exposto ao perigo. A sua ferramenta essencial foi o registo intenso do desenho, documentando todas as situações que lhe interessavam e esboçando ideias para futuras composições. Dos seus cadernos de campo restam hoje inúmeros desenhos, espalhados por colecções públicas e particulares, com destaque para a riquíssima colecção do Museu Militar de Lisboa. Sousa Lopes assinou e datou grande parte dos croquis que realizou na frente de guerra, gesto que mesmo na sua pintura de médio formato não era habitual, o que sugere a importância que atribuía a estes trabalhos. Ele sabia que muitos eram “documentos” que valiam por si e que não seriam utilizados para conceber as gravuras e pinturas que planeava realizar no futuro.
O resultado mais perene destas centenas de estudos de campo foi o magnífico conjunto de quinze gravuras a água-forte, algumas executadas ainda durante o conflito, que são páginas cimeiras na história da calcografia artística no nosso país, e o ciclo de sete grandes pinturas a óleo para o Museu Militar de Lisboa, um conjunto de relevância internacional executado pelo artista no imediato pós-guerra.
Carlos Silveira é investigador do Instituto de História da Arte (NOVA FCSH) e autor do livro Adriano de Sousa Lopes. Um Pintor na Grande Guerra (2018). Doutor em História da Arte pela mesma universidade, tem artigos publicados em Portugal e no estrangeiro, sobre a arte portuguesa dos séculos XIX e XX. Foi um dos curadores da retrospectiva de Sousa Lopes no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em 2015, e da exposição Tudo se Desmorona. Impactos Culturais da Grande Guerra em Portugal na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2017.
Carlos Silveira, Adriano de Sousa Lopes. Um pintor na Grande Guerra. Lisboa, Edições 70, 2018.
Maria de Aires Silveira e Carlos Silveira, coord., Adriano de Sousa Lopes (1879-1944). Efeitos de luz, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda / Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, 2015.
Vítor dos Santos, O desenho de guerra de Adriano de Sousa Lopes. Dissertação de Mestrado em Desenho, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2 volumes, 2006.
Helena Simas, «Sousa Lopes: A série de águas fortes sobre a I Guerra». Arte Teoria, n.º 3, Lisboa, 2002, pp. 104-113.