Sofia Morais :: O medo do desenho
Paulo Lourenço :: Impressões dissimuladas
Joanna Latka:: Gravura – Obra – Processo
Alexandra Centmayer & Rolf Behringer :: Sun by Sun
Beatriz Mestre :: Perfeita Imperfeição
Sofia Morais :: O medo do desenho
Paulo Lourenço :: Impressões dissimuladas
Joanna Latka:: Gravura – Obra – Processo
Alexandra Centmayer & Rolf Behringer :: Sun by Sun
Beatriz Mestre :: Perfeita Imperfeição
Perfeita Imperfeição
Fechem os olhos. No início, não havia nada a não ser Deus. Por isso, Deus criou-nos para nos amar e nós amarmos a Ele. Acontece que, se nós lhe desobedecermos, Deus envia-nos para o Inferno após a nossa morte para sofrer eternamente. É algo bastante bruto de se aprender quando se é apenas uma criança, mas foi exatamente isso que aprendi no meu colégio católico.
Adquiri o famoso temor a Deus que todo o bom cristão deve possuir e esse temor expressou-se em mim na forma de perfecionismo, tanto no que fazia como na maneira em que me apresentava aos outros. Tinha que ser perfeita em tudo o que fazia, não porque o queria ser, mas por medo das consequências para a minha alma.
Não querendo parece demasiado sentimental, a prática de gravura permitiu-me mudar a maneira como me vejo e me relaciono com o mundo a meu redor. Ao longo da vida sempre questionei o que tinha aprendido no colégio, tinha sempre o medo de errar presente em todos os aspetos da minha vida. Isto começa a alterar-se no meu 11o ano, quando o meu professor de História da Arte me apresentou um “retrato feito com facas”; uma gravura de um autorretrato de Kathe Kollwitz no qual o caos dos cortes na matriz criava um todo harmonioso. O erro dava lugar à perfeição.
Este mesmo professor também me introduziu à ideia de Erotismo na Arte. Ao explicar o Êxtase de Santa Teresa de Bernini, fez questão de notar o sorriso maroto do anjo, a sua seta em direção à zona pélvica da santa, que certamente era a causa da sua expressão de êxtase. Numa aula de apoio sobre gravura japonesa, em vez de apresentar os típicos exemplos de Hokusai e Hiroshigue, introduziu-me à gravura erótica japonesa.
Mostrou-me O Sonho da Mulher do Pescador com os seus ínfimos detalhes, as camadas sobre camadas de cor, as várias possibilidades desta prática artística. A partir daí, comecei a tentar praticar sozinha, frequentei alguns workshops e, na faculdade, realizei o meu primeiro grande projeto de gravura:
a Bíblia Erótica.
Este projeto foi muito importante para mim, não só porque foi o começo da minha exploração da religião Católica e do Erotismo que continua até hoje, mas também porque me permitiu atacar os meus maiores medos e receios. Conceptualmente, deu-me a oportunidade de estudar mais profundamente a Bíblia, ajudando a desconstruir o que tinha enraizado em mim mesma e deu-me até a liberdade de explorar outros aspetos que tinha receio de abordar na minha prática artística e vida pessoal como a sexualidade.
Este trabalho em particular consiste em pares de episódios e personagens bíblicas que exploram temas por norma censurados pela interpretação oficial da Igreja. Por exemplo, as minhas duas primeiras gravuras falam sobre a homossexualidade. Na primeira gravura da série, David e Jónatas, representa o episódio bíblico no qual Jónatas despe as suas vestimentas e oferece-as a David, sinal da sua submissão e lealdade ao futuro rei de Israel.
Após a morte de Jónatas, David exclama: «Admirável era o teu amor por mim mais do que o amor feminino.». Qualquer manual de catequese que aborde esta relação interpreta-a como uma grande amizade. Já na segunda gravura, Rute e Naomi, Naomi pede a Rute que volte
ao seu povo, ao que Rute lhe responde: «Não me instes a te abandonar, afastando-me de junto de ti, porque para onde fores irei também, e onde te estabeleceres, estabelecer-me-ei. O teu povo é o meu povo, e teu Deus o meu também.» que é uma das principais passagens bíblicas lidas durante os ritos de casamento pela Igreja, que só aceita casais heterossexuais.
Neste projeto também me dei a liberdade artística de reinterpretar alguns episódios bíblicos através de uma visão contemporânea, como em Sansão e Dalila e Jael e Sísera, onde explorei práticas de BDSM, de submissão sexual e inversão dos papéis de género no que toca aos atos ditos ativos e passivos.
Também, tanto na Bíblia Erótica como em outras gravuras como S. Sebastião e Aftercare, tento demonstrar o meu gosto pela História da Arte, área na qual estou atualmente a frequentar um mestrado, através da representação das personagens e espaços com uma estética dita Medieval, bem como referências literais a obras de arte. No lado mais prático, com a técnica de Gravura, saltei de pés juntos na constante possibilidade de ter de começar tudo de novo. A eterna permanência do erro em todas as fases desta técnica permitiu-me aceitá-lo e até mesmo incorporá-lo no meu trabalho. No final, acabo sempre com uma impressão completamente original, impossível de ser replicada.
Com Gravura, já não tenho medo de ir parar aos infernos e arder eternamente. Agora, tenho apenas o êxtase e a alegria do sentimento de concretização de um grande projeto e uma contínua curiosidade de saber que desafios vou enfrentar nos meus próximos projetos. Daqui, caminho em direção ao Céu.
Beatriz Mestre é Ilustradora licenciada em Arte Multimédia na FBAUL e atualmente é mestranda em História da Arte e Património na FLUL.
A sua obra consiste principalmente em ilustrações realizadas a gravura a linóleo, nas quais explora o tema do Erotismo aplicado à religião Católica com várias referências à História da Arte.
Sun by
For our project to create a sun-made image of the sun the Joya:AiR studio was just what we were looking for.
The new project called “sun by sun” required reliable sunshine because an image of the sun had to be burned onto a 1,6 m2 wooden surface by the means of concentrated sun light.
And also, the fusion of arte + ecología corresponded perfectly to us as the duo sunWorks (www.sunworks.click).
Alexandra Centmayer (www.alexandracentmayer.com) is an artist trained at Kunsthochschule Kassel, Universidad Complutense Madrid, and University of the Arts Berlin. In her painting she creates worlds that often have their origins in her immediate surroundings. Individual colour spaces are created through serial work, layering, and superimposing. The repetition gradually refines the ever-new view of the initial situation.
Rolf Behringer (www.solarezukunft.org) does projects on education for sustainable development. He has established a production of solar stoves in Germany and some small-scale solar cooker productions around the world. In 2009 he founded the international solar food processing network.
He developed several schemes such as bicycle cinema, experiments with renewable energy and some solar projects in schools.
All collaboration work is inspired and driven by the sun.
In 2014 the duo won the audience award with “Von der Sonne gezeichnet” (drawn by the sun) at the international exhibition EnergieWendeKunst in Berlin.
Alexandra:
Transforming high-tech NASA images of the sun with a very low-tech approach seemed to be a very appropriate work in this secluded and rural place of the world. The meditative act of drawing dot by dot onto the wood in preparation of the burning of the image turned the studio into a nun´s cell.
The sensation of shifting from this very small unit to the big picture was completed when stepping out at night under the gorgeous sky with trillions of stars and the milky way.
Rolf:
First, I was so happy when I saw the autonomous energy system. All electricity and hot water are produced by sun and wind. Both sources are available in abundance, and it shows us so clearly that it really makes sense to use decentralised renewable energy.
Burning our image of the sun with different sized lenses for 19 days, spending hours and hours in the sun, covered by sun protecting clothes, wearing welding goggles and burning thousands of different sized dots in the wooden surface was a very special experience. It is very intensive, working many hours with the sun. Thanks to Donna und Simon for this wonderful space that has given so many artists a chance to work focused and relaxed on their projects and at the same time bringing international artists together and giving us a chance to exchange and share experience and thoughts, mainly during the fantastic dinners, sometimes under the moon.
sunWorks is the cooperation between artist Alexandra Centmayer and solar expert Rolf Behringer. All works are inspired and driven by the sun. sunWorks deals with the current process of transformation in our energy system.
ALEXANDRA CENTMAYER born 1967 studied Fine Arts at University of the Arts (UdK) Berlin, Art Academy Kassel, Universidad Complutense de Madrid
www.alexandracentmayer.com
ROLF BEHRINGER born 1966 studied Technology, Maths, English and Pedagogy in Freiburg und found the access to Renewable Energies by Solar Cooking.
He is cofounder of the NGO Solare Zukunft and currently coordinates projects for education for sustainable development (ESD).
1996 he realized the concept of the mobile solar unit “Famos”.
2000 – 2003 he was in Namibia with the German Development Service and built up a workshop for solar cookers.
2005 he founded the International Solarfood Processing Network.
common shows
2021 EWS Freiburg
2018 sunWorks, Stadtmuseum Hüfingen
2017 documenta-Halle, Zukunftsforum Energiewende, Kassel
2016 Transhuman Motivation, Kreuzberg Pavillon, Berlin
2016 KlimArs, MUMUTH, Graz
2015 Von der Sonne gezeichnet, Bauhaus Dessau
2014 EnergieWendeKunst, silent green Kulturquartier, Berlin
(awarded)
2014 Art, Material and Sustainability, Project Space Group Global 3000, Berlin
2013 Lichtflügler, Kunstkiosk Ehrenkirchen
2013 Augenblicke, AKK Ehrenkirchen
2013 sunPlugged Festival, Mumbai
Gravura – Obra – Processo
Em primeiro lugar gostaria de agradecer o convite para participar neste diálogo com o vosso público sobre a minha experiência em gravura.
Para todos os que não sabem quem eu sou, faço uma breve apresentação.
Ora bem, o meu nome é Joanna Latka, sou artista plástica, polaca a viver e trabalhar em Lisboa desde 2003. No plano artístico, dedico-me exclusivamente à gravura, ilustração e desenhos a tinta-da-china, incorporando variações baseadas nas técnicas de desenho e ilustração contemporâneas.
O meu contacto com a gravura começou muito cedo, pois desde pequena visitei muitas exposições de gravura na minha cidade natal, Cracóvia em especial o famoso concurso de gravura da Trienal de Cracóvia, que é reconhecido mundialmente e traz sempre muita novidade expositiva tanto no contexto técnico como no conceptual na área da gravura e de todos os possíveis meios de impressão. Apesar de na altura, gostar muito, nunca pensei na gravura como a minha “técnica” futura. Foi apenas uma das expressões plásticas que eu sempre olhei em modo só de um observador, nunca pensando que pudesse tornar-se a minha técnica principal.
A grande transformação no modo de ver a gravura, foi na faculdade, quando tive de estudar a gravura como uma das disciplinas obrigatórias no meu percurso no Instituto de Artes em Cracóvia onde me formei.
A primeira técnica que experimentei foi o metal. Embora tenha estudado outras técnicas como a linogravura e xilogravura e litografia, foi exatamente no trabalho em metal que me transformou totalmente, pois desde o dia em que experimentei a gravura em metal, larguei praticamente a pintura, que até a data era a minha actividade artística principal.
Foi uma grande revolução já que desde pequena não largava a pintura, portanto toda gente, incluindo eu, pensava que iria ser pintora.
Passaram 20 anos desde que acabei o meu curso e de facto nunca mais voltei a pintar. Interessante não é?
Sinceramente não sei muito bem o que foi que me atraiu mais. Se a parte técnica, este muito alquímico processo de preparação da matriz, estes misteriosos processos de aplicar o verniz ou a resina para trabalhar na técnica água-tinta, ou o processo de abrir o desenho na chapa na técnica água-forte, ou a forma de trabalhar na chapa sempre pelo negativo para obter depois na prova a imagem em positivo. A criação das texturas, as profundidades, todos estes planos texturizados e linhas, as mordidas profundas, criados conforme o tempo que deixamos a chapa no mordente, ou talvez o mistério de todo o processo de impressão, especialmente o método de impressão chamado talhe-doce, mas podemos também falar sobre os materiais/ferramentas, tão diferentes como das outras áreas artísticas, pontas secas, burils, raspadores, tarlatana, entre outros. Enfim, aqui poderia falar horas, sobre o que possivelmente me atraiu nesta técnica, o que é certo é que não tenho a resposta concreta, penso que foi um pouco de tudo o que referi que me vicio nesta técnica.
Também, sem dúvida, a gravura obrigou-me a ser mais organizada, já que é uma técnica muito complexa, e com um simples erro podemos estragar todo o trabalho produzido, que dificilmente se consegue recuperar. Por isso, o trabalho tem de ser muito bem preparado, pensado e organizado, que de facto não era o meu forte factor quando comecei a trabalhar há vinte anos nesta técnica. Foram muitas horas e dias que passei no atelier aprendendo com os erros, que acabaram por resultar numa pessoa mais cuidadosa e organizada e bem concentrada naquilo que faço.
Embora de complexidade e longos tempos para produzir uma gravura, é uma técnica que pelo facto de não ser instantânea, porque não podemos ver o resultado logo, só no final de todos os processos, a torna mais interessante.
obrigada e até um dia deste;
Joanna Latka was born in a country situated at the crossroads of the spirituality and emotionality of the East and the intellect of the West. In a bygone empire. In a country where, in the time of too many wars, poets turned to soldiers and musicians turned to politicians. In the country of Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski, Czeslaw Milosz and Zbigniew Herbert. She was born just before the collapse of communism in the city of Krakow, which was a lucky coincidence.
Krakow has always been a major centre for Polish art and culture. It is a place where the old and the new are relative notions. It is a place where the tombs of kings adjoin the banality of grim communist concrete blocks.Krakow is also a major venue for important encounters.Joanna Latka has been painting and drawing since she was a child. She’s been painting at home, she’s been painting on the floor, she’s been painting everywhere. She has maintained this spontaneous quality until today, in spite of a thorough artistic and pedagogical training, which sometimes is useful, but is also often nothing short of the taming.It’s impossible to tame the imagination of Joanna Latka.
Her works are a life diary and a variety of one of the trends of expressionism. They are also both an existentialist question and an existentialist answer.Her works depict everyday life, but nevertheless are able to raise unusual reactions. Standing in front of them we can feel the authenticity of the transfusion of emotions made by the artist.Joanna Latka, with her existentialist roots and romantic structure, is an exceptional artist. She is also a courageous person. Most fascinatingly for me, she finds her home in Portugal. Among the culture, tradition, art, history and the people of Portugal.Her Portuguese adventure is certainly a very rewarding experience. I’m happy to wish her luck.
Professor Piotr JarguszInstitute of Fine Art, Pedagogical University, 2007
Impressões Dissimuladas
O meu trabalho sempre teve um forte vínculo com a gravura e, em particular, com a serigrafia.
Tem sido um processo de investigação teórico-prático que teve como ponto de partida a minha experiencia profissional, e um percurso pessoal e processual, que se tem desenvolvido nos últimos anos, reflectindo-se na minha forma de pensar e construir o meu trabalho artístico.
Este processo caracteriza-se por uma procura e uma prática através da qual o modo operativo adquire grande importância. A serigrafia está sempre presente na execução dos meus trabalhos, e por tanto, procuro sempre questionar quais são os seus limites tecnológicos, e que resultados práticos e plásticos posso adaptar na construção dos meus objetos.
Os trabalhos mais recentes representam extensões de caules e radiculas de plantas de Heras. São raízes aéreas que correspondem à imagem de um emaranhado de linhas que se cruzam, sobrepõem e interligam, onde não se distingue o início, o centro ou o fim. Linhas que se propagam ad infinitum, incorporando cada uma o seu próprio devir dentro destes rizomas.
Elas continuam para além dos limites dos trabalhos, como na perspectiva centrífuga como nos fala Rosalind Krauss no seu texto The Grid. Estes trabalhos podem ser observados de diferentes ângulos, podendo o espectador ‘entrar’ ou ‘sair’ do objeto por qualquer uma das suas arestas.
O meu trabalho reflete uma pesquisa que procura encontrar uma nova possibilidade de operar da serigrafia. O Imprimir exaustivamente uma imagem sobre a mesma área de um único suporte, o que permite salientar a imagem impressa do plano que lhe serve de base, criando assim uma terceira dimensão.
A cada início de um novo trabalho, as imagens que irei usar são decompostas e divididas em vários layers, correspondendo cada layer a um ecrã serigráfico com diferentes níveis de informação; sendo o primeiro o que corresponde à maior área de impressão, e o último o da informação residual a ser impressa.
– A cada impressão é depositada uma nova camada fina e uniforme de tinta na superfície do suporte. É a contínua repetição deste gesto e a sucessiva acumulação de camadas, que são cópias com características tácteis e carnais num mesmo registo, que permitem às minhas imagens sobressaírem do plano que lhes serve de base. Esta é uma particularidade que caracteriza a minha forma de operar.
Os objetos resultantes deste modo de fazer, mesmo quando apresentam características da bidimensionalidade, revelam-se também como baixos-relevos, conferindo-lhes assim atributos e especificidades que os instalam no território da tridimensionalidade.
Este processo contraria assim a ideia pré-estabelecida de que a serigrafia se encontra estagnada e estanque no grupo das técnicas de gravura planográficas, caracterizadas por impressões planas, ou seja, aquelas que não revelam nem deixam vestígios de textura ou relevos detetáveis nas superfícies impressas.
Pretendo assim demonstrar com esta forma de operar uma nova característica da serigrafia: a possibilidade ainda pouco explorada que esta oferece para produzir objetos que saem do campo da bidimensionalidade para se instalarem numa outra dimensão, através da repetição obsessiva e simultaneamente dissimulada do ato de impressão.
Desta aparente acumulação, resulta no entanto, num trabalho artístico carregado de extrema leveza e depuração.
Paulo Lourenço nasceu em Lisboa a 1965 onde vive e trabalha.
Em 2016, concluiu o Mestrado em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Desde 2001 participou em mais de cem Exposições Colectivas em Portugal, Brasil, África do Sul, França, Espanha, Itália, Dinamarca, Holanda, República Popular da China, Polónia e Japão.
2016-Lisboa, (Galeria Diferença) “Brancos, de um só lugar” 2015-Proença-a-Nova, (Galeria Comendador João Martins) “Encruzilhadas”, Pintura/Gravura. 2014-Lisboa, (Galeria Abraço), “Crossing Lines”, Pintura. 2009-Proença-a-Nova, (Galeria Comendador João Martins) “Crossover”, Gravura. Lisboa, (Galeria Diferença) “Genius Loci”, Pintura. 2008-Lisboa, (Associação de Gravura Água Forte) “Ambientes-Feéricos”, Gravura. 2006-Évora, (Galeria Teoartis) “Desigual”, Gravura. Lisboa, (Galeria Diferença) “Entre Variáveis”, Gravura.
2015 Espanha, Cáceres, 1º Premio da Bienal Iberoamericana de Obra Gráfica Ciudad de Cáceres. 2009 Beja, Menção Honrosa, (Museu Jorge Vieira), XVII Concurso/Exposição Galeria Aberta. 2007 Lisboa, Medalha de Bronze do I Salão de Artes Plásticas de Portugal. Beja, Menção Honrosa, (Museu Jorge Vieira), XV Concurso/Exposição Galeria Aberta. 2004 Évora, Prémio Exposição Individual do 4º Festival Internacional de Évora – Bienal Internacional.
Holanda, Amesterdão, Vereniging Voor Originele Grafiek, (VOG). Portugal, Lisboa, Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, Museu Arqueológico do Carmo. República Popular da China, Macau, Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau. Japão, Okinawa, Sakimi Art Museum. Representado em colecções privadas em Portugal, Brasil, Espanha, Holanda, Polonia e Japão.
O Medo do Desenho
Acho que tenho medo do desenho, por isso gravo.
Na verdade, o medo parece-me um forte e válido catalisador no nosso caminho, e no meu, leva-me a lugares que sem ele desconheceria por completo.
Este medo direciona-me, faz-me percorrer outras ideias e expressões e de cada vez que o enfrento com uma goiva na mão, sei que será mais fácil olhar a fria folha em branco.
É que a folha branca devolve-me algum vazio, como se tivesse a capacidade de julgar a minha falha, como se evidenciasse uma linha mal direcionada, um desenho inexpressivo e desequilibrado. Sempre achei que tinha muita dificuldade no desenho, no passar das formas proporcionais daquilo que via, de me manter focada no que visualizava e na maneira como o passava para o papel. Sabia que era uma questão de treino, de prática, de ginasticar o olhar, e a mão.
Algumas vezes, quando me permitia a experimentar diferentes materiais as coisas mudavam um pouco, com o pincel era difícil responder a pormenores, com um lápis era complicado aumentar largamente o formato, mas esta desadequação
dos materiais ao que queria desenhar revelou-se como algo importante e precioso, era nessa experimentação
e desadequação que surgiam os desenhos mais espontâneos, mais soltos, mais expressivos. Afinal a desproporção, o aparente desequilíbrio era um lugar de descoberta e interesse.
O medo da falha e do erro continua em mim, mas ele já não me limita o movimento. Sem dúvida a prática e a livre experimentação contribuem em muito para isso e também o que vou aprendendo com colegas artistas, gravadores e ilustradores nas suas diferentes formas de trabalhar.
Quando faço esboços para um projeto de gravura, sobretudo em linóleo, procuro não fechar o desenho na sua totalidade.
Ao contrário de quase tudo na minha vida, na gravura adoro
a imprevisibilidade do que surge, dos constantes erros que
vão acontecendo, da forma como tenho que reduzir a minha velocidade, do foco que necessito para não errar ou para
não me magoar, das revelações que que se vão sucedendo desde o desenho à gravação, desde a tintagem à impressão.
Quando ataco o linóleo, e deixo as goivas romperem os brancos do desenho há uma sensação de liberdade. Essa matéria maleável mas resistente não me deixa fazer as coisas da maneira que sei e aprendi, mas ensina-me a chegar a outros lugares de descoberta, onde o desenho se vai revelando em formas densas, em volumes visíveis e tácteis.
É no desenho que a goiva faz, nesse escavar ora lento e fluído, ora resistente e sôfrego que encontro a linguagem que melhor traduz o que quero e penso.
É que na gravura o desenho transforma-se. As linhas delicadas ganham brutalidade, as formas tornam-se densas, a aparente graciosidade do traço a grafite ganha outra força que resulta em algo diferente do que inicialmente esbocei. Essa transformação do desenho em algo novo, com mais matéria, com mais contraste, com mais níveis de leitura, dá, a meu ver, uma outra vida ao meu trabalho.
Nem sempre preciso definir tudo, deixo muitas vezes que o material me guie.
Não gravo com a necessidade de estar sempre a visualizar o alto contraste que a técnica permite. Gosto de aguardar pelo momento da impressão para finalmente ver o que esta revela.
E é também nessa altura que muitas outras decisões podem alterar em tudo o desenho inicial – a escolha da cor, as possibilidades que esta propicia, a sobreposição de matrizes e a coincidência ou não das mesmas, tudo isso traz novas leituras à imagem gravada.
A folha branca e fria vai então compondo-se de cor, de tramas
e texturas visuais e tácteis que se podem repetir um sem fim
de vezes e compor de inúmeras formas numa mágica marcante da gravura – o múltiplo.
Essas infinitas possibilidades de composição revelam-se construtivas, fazem-me desfrutar do desenho, do processo,
sem medo de saber onde chegarei no fim.
Sofia Morais nasceu em 1979 em Lisboa, onde vive e trabalha.
Licenciada em Design de Comunicação, pelas Belas Artes de Lisboa, é designer gráfica e ilustradora freelancer.
De momento dá aulas na disciplina de Projeto e Tecnologias do Curso de Produção Artística – Especialização em Gravura/ Serigrafia da Escola Artística António Arroio.
Desenvolve regularmente oficinas de ilustração e gravura.
Fez o curso de Ilustração no CITEN (Gulbenkian), ao qual se seguiu o de Pintura e Desenho e várias Oficinas de Ilustração Infantil no Ar.Co. Uma oficina com Isabelle Vandenabeele muda a sua visão sobre a ilustração e leva-a a descobrir e entregar-se à gravura no atelier Contraprova, do qual faz parte desde 2015.
Expõe regularmente o seu trabalho e tem colaborado em diversas publicações e projetos.
Em 2020 foi selecionada para o Catálogo Ibero-América ilustra com um com conjunto de ilustrações em gravura. Em 2017 foi distinguida com o 3º Prémio no Encontro Internacional de Ilustração de S. João da Madeira, e em 2014 com uma Menção Honrosa. Integrou recentemente a 3ª Bienal de Ilustração de Guimarães e últimas edições da Mostra de Ilustração Portuguesa na Festa da Ilustração de Setúbal.
Gabriela Albergaria :: SEQUENCE
Marco António Costa :: Sketchbook therapy
Victor Gonçalves :: Desenho: percurso, sintaxe e inutilidade
Susana Chasse :: Desenho como Meditação. Pensamento abstracto.
Martina Brusius :: Fragmentos de desenhos e pensamentos
Fragmentos de desenhos e pensamentos
Meu nome é Martina Brusius e tenho o desenho como um companheiro ao longo da vida. Gosto de desenhar o que ainda não sei, usar o desenho para enxergar aquilo que está por nascer em mim.
O que segue é um feixe de pensamentos sobre o desenho. Cheios e vazios amarrados pelo agora, unidos em um arranjo temporário por uma corda pronta para ser desamarrada.
…
o desenho permite que os olhos dancem entre fragmentos e o todo.
o observador/desenhador inventa seus passos
o desenho é música que estabelece ritmo.
…
uma folha de papel é infinito fechado, como o infinito que existe entre os números 0 e 1
…
distorção a serviço do desejo(desenho)
desenho com um jogo de mal-entendidos
…
diálogo que se estabelece no limite consciente e inconsciente no ato de desenhar
contorno para borrar os limites
desenhos são sussurros do inconsciente
…
mãos que pensam
olhos que escutam
pensamentos que desenham
…
é preciso sustentar o não saber ao desenhar
…
olhar é desmedir
…
coleciono espaços vazios entre desenhos, como as pausas entre as palavras
Susana Chasse, Lisboa,
Como vivência transversal. Frequentou o Curso de Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) em Lisboa (1990) e foi convidada em 1991 para ser assistente de Desenho. Desde 2008 é formadora de Desenho de Modelo de Nu / Desenho Autor e Desenho como Meditação na NEXTART, em Lisboa. Mestre em Design Visual no I.A.D.E com o tema “Desenho como Meditação. O Olhar que Contempla” em 2010. O “desenho escrito” é exercitado para dissecar o centro intelectual desta existência entre a tese, artigos e reflexões. O “desenho falado” acontece em palestras, colóquios, congressos, workshops sobre o mesmo tema. Como autora-artista, desde 1999, desenvolve o seu trabalho plástico no desenho, pintura, instalação e escrita. Todos são uma constante neste caminho, onde tudo se reúne e onde é terreno alimentado por todas as experiencias passadas. É como artista plástica que materializa desde sempre tudo o que é. Expõe regularmente individual e colectivamente, em Portugal e Internacionalmente. Os prémios de pintura e desenho vão pontuando o caminho como forma de materializar momentos.
Desenho como Meditação. Pensamento abstracto.
O Desenho como Meditação. Desenho: o olhar fora. Meditação: o olhar dentro. A abstracção como forma de pensamento em que o conhecimento é independente do conceito, onde a denominação, ou seja o nome, vem no fim e nunca no inicio da observação. O desenho passa por uma construção de relações de linhas, manchas, volumes e texturas, suportadas por movimentos verticais e horizontais organizando-se num universo de inclinações que auxiliam o entendimento e compreensão da relação das mesmas formando uma composição própria, individual e única.
O conjunto de linhas que observamos é visto com um olhar que não se prende à representação da realidade tangível, nem tem o objectivo de correspondência a nenhum objecto ou coisa. A sua existência passa por ser só a que realmente existe e não aquela que nós preconcebemos. Os padrões antigos de percepção condicionam o novo que se apresenta na sua eterna transformação.
Interessa-me uma consciência de totalidade, um estado acordado de pura presença contemplativa. Desenhar o agora, uma mente que relaciona e não julga. A generosidade revela-nos todo o espaço mostrando-nos composições perfeitas habitadas por inúmeras subtilezas e tensões sem tensão.
Esse pressuposto de ver tudo como uma nova verdade constante “arruma-nos a casa” mental e cria clareza efectiva em contraste com a obscuridade afectiva. A Luz-Sombra pode ser sinónimo de obscuridade se não for entendida sob um único foco, o da percepção pura do Agora.
Contemplar o real, através de uma mente abstracta, para que surja no visível, o invisível, legitimando assim o nome. O olhar foca-se no objecto de interesse retirando não só a sua informação visual, das formas, como também a informação dada por todos os outros sentidos. O foco está em todo o corpo que está alerta para tudo o que rodeia ao ponto de sentir que tudo lhe pertence embora aparentemente se encontre separado. O objecto contemplado não está separado do todo e o observador também não, ambos fazem parte do mesmo, são o mesmo, e é ao experimentar e vivenciar esse estado que podemos apelidá-lo de contemplação e por consequência natural, meditação. Sendo verdade no abstracto como também no figurativo mental.
Um estado contemplativo onde todos os sentidos estão acordados, onde o Desenho passa a ser acção, verbo, pensamento e entendimento de vida é uma forma de estar, vibrar, ser, existir, respirar. Fonte que nunca se esgota. Desenho, onde tudo é relação.
Susana Chasse 2022
Tese DESENHO como MEDITAÇÃO. O Olhar que Comtempla – 2010
Desenho: percurso, sintaxe e inutilidade
Em 5 minutos o artista apresenta o seu contexto de aproximação com o desenho, os assuntos que seu trabalho aborda e aponta para onde sua poética caminha.
https://linktr.ee/goncalvesvictor
Victor Gonçalves (São Paulo, 1989) é formado em Geografia pela UNESP (2013) e estudou artes visuais – desenho no Ar.Co (Lisboa – 2020). Em 2020 teve seu trabalho em vídeo-arte selecionado para o Dobra Festival de Cinema Experimental no MAM RJ. Participou da 2a edição da residência artística Grão em Aveiro, Portugal. Em 2021 teve sua primeira exposição individual com o título “Por um Fio” com curadoria de Cristiana Tejo no NowHere em Lisboa, participou da residência artística Néctar em Barcelona tendo a exposição na galeria Espronceda no festival Art Nou. As questões sobre o espaço, temporalidades, matéria e afetos são os elementos de sua pesquisa artística. Participou de exposições coletivas no Brasil, Espanha e Portugal. Participa dos Encontros e Reflexões com a artista Iole de Freitas no Parque Lage no Rio de Janeiro. Vive e trabalha entre São Paulo e Lisboa.